27 de janeiro de 2020

Escola do Filho

por Mariza Domingues

Os filhos sempre nos apresentam desafios e, claro, com isso, propostas de inovação. Cada período – as famosas e intermináveis “fases” – bate a nossa porta inevitavelmente nos exigindo decisões, mudanças de atitude, construção de novos hábitos e muitas outras coisas para as quais, nós pais pensamos estar preparados e somos repentinamente colocados diante das encruzilhadas e necessitando fazer escolhas. A escolha da escola é um desses desafios de grande importância e que nos apresentam dificuldades de decisão.

E, normalmente, começamos a pensar nos colégios tradicionais, entendendo que eles são garantia de sucesso. Também, começamos as longas especulações para aqueles que já tem filhos na escola, no berçário, e ouvindo dezenas de opiniões cada uma acoplada à longas narrativas totalmente específicas e pessoais. Daqui, surge a primeira reflexão: o que serve para o outro serve para mim, para o meu filho, para minha família? Então, vamos lá: é preciso conhecer o seu filho para que a busca/escolha seja eficiente.

É óbvio que antes disso há de se avaliar questões financeiras, de localização facilitadora para a rotina de trabalho dos pais e bem estar da criança, mas aqui tenho intenção de tratar mais especificamente sobre as questões pedagógica e emocional que envolvem essa decisão. É importante reconhecer seu filho em suas particularidades de temperamento, disciplina, hábitos, limitações e expectativas diante desse momento especial. Ainda, é importante entender esse momento como muito especial e merecedor de toda atenção e envolvimento. E longe de valorizar àqueles com suas críticas de que nos tornamos reféns dos nossos pequenos tiranos que ditam as regras para nossas vidas de pais. Não. É que a criança é parte essencial desse processo. Não há como ignorar isso. Seria um grande erro.

Olhar para a criança como centro do processo é uma forma de reconhecer um ambiente que se adeque às expectativas dessa criança e também as suas necessidades. Essa condução com a criança em foco é muito importante, mas esbarra num ponto que nos incomoda muito e que por alguma razão, nos assombra e atrapalha na tarefa de ser pai e mãe. Em mais esse momento, nos deparamos com a provocação de desconstruirmos o filho perfeito (sabe aquele que sonhamos quando escolhemos ser pai e mãe, aquele que vemos fragmentos dele em filhos admirados e bem sucedidos dos outros…). Pois é! Esse filho perfeito não existe. Pode até parecer cruel, mas não é aos olhos de pais e mães amorosos. Eles são o que temos e o mais precioso que temos e é ele com suas grandezas e pequenezas, elevações e limitações que deve ser foco no momento da escolha do colégio.

Reforço que os primeiros passos são questões técnicas e racionais como localização de acordo com a rotina e trabalho da família, pensar em quem vai levar, quem vai buscar, os horários que a escola disponibiliza para a entrega da criança, se há monitores para receber ou não, se a idade da criança exige monitores para recebê-la ou não até o início das atividades, horário limite para a entrega da criança no final das atividades, se há refeitório na escola caso você entenda ser necessário que a criança almoce por lá e se há monitoramento para esse momento, espaço físico adequado à idade da criança pautado em segurança, espaço para brincadeiras, ambiente monitorado por câmeras ou não – e avaliar se isso é necessário –, limpeza adequada, ventilação e luminosidade, elementos da natureza integrados ao espaço em que a criança estará, espaço específico para educação física, biblioteca, acessibilidade, espaço separado para os pequenos e com especificidades para eles: banheiros personalizados para os pequenos, rampas, corrimão, escadas, degraus, cercas, telas de proteção de acordo com a segurança adequada… Jamais conseguiria listar elementos que cada família entende – do ponto de vista técnico e estrutural – como indispensáveis, mas a intenção aqui foi mostrar que isso é sim importante ser avaliado para que a família se sinta segura deixando seu filho num ambiente avaliado como adequado. Ainda visto como ponto técnico, é preciso pautar as questões financeiras – provavelmente, esse seja o primeiro ponto de eliminação e incorporação de instituições numa lista inicial de possíveis escolas. Valor da mensalidade, material didático, lista de material escolar, despesas com passeios previstos em calendário escolar, uniforme e outros são questões importantes de serem avaliadas.

Agora, saltamos para as questões pedagógicas e específicas para cada criança e família. O autoconhecimento de exigências, expectativas e necessidades é determinante para se buscar aquilo que será determinante para o sucesso da criança na escola – vale lembrar que esse sucesso é quando a criança alcança o máximo de sua capacidade.

Assim, passemos ao momento pedagógico de avaliar questões na escola que se adequarão à condição e à vontade da família e criança.
É indispensável, embora alguns achem formalidade desnecessária, a entrevista. Esse momento de exclusividade com um representante da escola – em princípio, seria primordial que fosse o coordenador pedagógico – é importantíssimo, pois é o olho no olho, é o momento de expressar suas expectativas e ouvir de alguém que é parte daquele lugar, como é esse lugar, como são as pessoas, como eles veem e atuam com as crianças, quais são as qualificações dos profissionais que ali atuam, como são gerenciados questões práticas do cotidiano escolar – do profissional que cuida do portão ao professor que atua na sala de aula. E, o mais importante: qual é a identidade pedagógica dessa escola.

A identidade pedagógica dessa escola é a forma de atuação, são os métodos escolhidos para ensinar, são os métodos para atuar com crianças que precisam de formas específicas e/ou diversas para alcançar o aprendizado – inclusão/participação -, são os projetos pedagógicos e seus temas e objetivos, é a forma de avaliar o desenvolvimento da criança, a forma de rever a falta de aprendizado – já coloco “rever”, pois entendo como impossível não fazer assim. A identidade de uma instituição escolar é também, a forma como a coordenação, direção e professores se comunicam com os pais, a acessibilidade e entrosamento entre essas partes. Aqui, os pais precisam se reconhecer como parte do processo e não entender que somente eles vão à coordenação, mas a coordenação pode ir até ele e assim, precisam se mostrar disponíveis. Conhecer uma escola é saber quais situações do universo pedagógico são primordiais a eles.

Desenvolvimento da autonomia, socialização, conhecimento, valores morais, religiosos, cooperação, senso de responsabilidade, valores culturais, posse de seu valor social, habilidades emocionais…?

Aqui, volto ao ponto de a família saber o que lhe é importante para avaliar o que se adequa a ela. Volto ao ponto de a família conhecer o seu filho para saber o que realmente é primordial. Não somos iguais, não nascemos e nem nos construímos iguais. Em razão disso, a busca pela escola “mais ideal” é subjetiva. Por isso, tão difícil e provocadora. Entendam esse conflito como positivo, pois se há um pai ou mãe se ocupando com a educação formal do filho, é reconfortante aos olhos de quem entende que os pequenos, quando amparados em suas necessidades, ganham metade do caminho.

Impossível ignorar os pais que, além de todo conflito óbvio da situação, ainda possuem a situação específica de filhos com necessidades especiais de ensino/aprendizagem – autismo, TDAH, deficiência visual, dislexia, discalculia, deficiência auditiva e outros. A situação se desenha ainda mais desafiadora, pois é obrigatório, nesse caso, uma instituição de ensino que corresponda a esse universo particular, mas não menos importante, para atender essa criança entendendo de forma responsável que ela é parte desse mundo, quer, pode, precisa e merece se socializar e participar da vida real e ainda mais, fazer a vida real – dentro dessa escola, pelo menos – reconhecer e transportar para si esse ser humano como parte valiosa do universo. E tudo isso, sem o tom melancólico, obrigatório, piedoso que já vimos e vemos. Não. O tom é de naturalidade tanto quanto natural é.

A escola e toda sua equipe precisa estar apta a atuar com essas crianças, tendo profissionais capacitados, funcionários treinados para situações específicas, comunidade escolar envolvida, professores informados, formados e dispostos a utilizar mecanismos diversos e necessários para o desenvolvimento cognitivo, social, emocional dessas crianças. A coordenação precisa se mostrar disposta a ter um olhar atencioso para esses alunos e seu desenvolvimento.

E, é imprescindível que a escola tenha um núcleo específico habilitado para compreender, colaborar e participar do processo em que essas crianças, normalmente, estão envolvidas que é de terapias com diversos profissionais, os quais precisam ter acesso à escola, bem como sua colaboração. Essa disposição da escola para o recebimento do aluno em condição especial é preciso ser avaliado. É preciso, na escolha da escola que se fale abertamente sobre o assunto para que a situação não se torne um constrangimento ou problema mais tarde. Cientes, pais e escola podem trabalhar juntos de forma que cada um desempenhe sua função de forma a colaborar com a evolução da criança – entendida como o alcance de sua potencialidade máxima.

E aos pais, que não vivem essa realidade, cabe, tendo um filho numa escola que atende crianças com necessidades especiais, saber de sua obrigação de reconhecer a oportunidade do filho de construir o hábito de viver com o outro de forma pacífica, justa e socialmente correta e fazer disso algo tão natural “quanto natural é”.

Enfim, a escolha da escola deve passar pelo último item de avaliação que é o coração do pai e da mãe que vão se sentir acolhidos, respeitados, compreendidos em suas necessidades, valorizados como gente e seguros para deixar o seu filho – que é sua responsabilidade – num ambiente que atende as suas expectativas estruturais, pedagógicas e afetivas. Talvez, pareça subjetivo demais ou, para alguns, avaliar o que o coração sentiu com a escola visitada, seja de nenhum valor, mas o coração de pais que amam seus filhos consegue ultrapassar todas as questões técnicas e reconhecer um lugar onde o seu pequeno irá aprender, se desenvolver e se projetar como parte do mundo em que nós desejamos que ele tenha como dele e ainda mais, que esse nosso pequeno acrescente o que de melhor ele já tem e receba o que de melhor lá tenha.
Boa escolha! Razão e coração costumam conduzir por bons caminhos.

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Sobre o(a) autor(a)
Mariza Domingues

Mariza Domingues

Mariza Domingues é mulher, filha, mãe, professora empenhada na proposta educacional contemporânea, educadora LIV, Psicopedadoga em formação, uma pessoa incrível e ensaísta para o ABA+ ! É muita inteligência Afetiva!
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