15 de outubro de 2020

Eu aceito ser importante

Por Mariza Domingues

E, enfim, o mundo descobriu quem somos! Somos professores!

Clichê já, dizer que o mundo está diferente, mas impossível desviar do clichê. Está! Muito diferente! Em tempos em que não se pegam nas mãos, o sorriso é camuflado na proteção, os olhos precisam aprender a dizer, os encontros são minguados e vigiados e contraditoriamente tudo se conecta sem se conectar, impossível perceber que é tudo tão diferente, tudo tão novo e desafiador.

Mas interessante perceber o movimento que se deu em busca do essencial. Mais interessante descobrir que, enfim, o professor entrou para o santuário dos essenciais.

O universo se movimentou de forma extraordinária – e, não entendam extraordinária como beleza e sim como força – para clamar aos seus que a vida é muito mais do que se estava compreendendo. A vida está além das coisas, dos desejos, do eu; a vida é nós, a vida é sorriso, encontro, toque, olho no olho, é compaixão, é empatia, é estar junto. Se não estamos juntos, nossa natureza se perde, se esvazia, se deforma. A expectativa de aprendizado dentro de um momento como esse de pandemia, distanciamento social é descobrir que só existimos se “somos juntos”.

O professor só alcançou o seu lugar de essencial quando perceberam que ele está sempre junto. O mundo descobriu o professor pela falta dele. Ele fez falta para estar com seu filho para você ir para o trabalho e ir com o coração em paz sabendo que ele é cuidado; ele fez falta na equação que não se desenrola para o resultado esperado; ele fez falta quando quis saber das montanhas, dos países distantes e seus costumes; ele fez falta quando você torceu para o acento da palavra ter desaparecido na última revisão ortográfica para justificar seu erro ou desconhecimento; ele fez falta para esclarecer os processos biológicos, químicos e médicos que tomaram conta do nosso cotidiano em meio à vírus, tratamentos e procedimentos; fez falta pra falar de política e oferecer um olhar que talvez fosse diferente do seu e que não te faria mudar de ideia, mas te faria descobrir um mundo em que as pessoas são diferentes e que isso não faz diferença nenhuma; fez falta quando seu filho sentiu falta e seu coração enfim, se comoveu. O professor fez falta porque seu filho, nosso aluno, sentiu nossa falta. E que dádiva termos um filho gente, filho ser humano, filho com emoção, filho que se comove.
E o milagre se fez! Professor tornou-se essencial!

Jamais houve o descaso com muitos que já tinham esse pensamento e nos demonstravam seu reconhecimento, mas agora, outros tantos que nunca sequer se dispuseram a pensar sobre tal resolveram nos presentear com esse título de essencial.

Espero não sofrer reprimendas com a confissão, mas inicialmente tive ímpeto de ficar indignada, talvez enraivecida com o reconhecimento tardio e motivado por questões práticas e não por reconhecimento verdadeiro. Mas, retomando a razão e motivada pelo coração, decidi aproveitar o momento, decidi aceitar o título, decidi ser essencial e tornar isso normal. Porque sei que professor é importante, sei que professor é peça fundamental da engrenagem que move descobertas, encontros, vínculos, saberes, estímulos.

Nós professores entramos na vida de nossos alunos e suas famílias, conhecemos suas singularidades, seus segredos, compartilhamos histórias, construímos laços de afeto, criamos histórias, acolhemos vidas. Descobrimos em tempos difíceis que essa é a razão da vida: viver junto, sentir junto, “ser junto”. Por isso, somos todos essenciais na nossa convivência.

Essa convivência é que nos motiva, que nos dá força. Não temos a vaidade da essencialidade, temos agradecimento, temos o coração cheio de alegria para seguir descobrindo que as essências são imperceptíveis aos olhos, mas valiosas ao coração.

E que nossos corações sejam sensíveis para nunca esquecer de que só somos importantes em meio a outros importantes.
Professores, sigam! Força, coragem, perseverança! Vamos vencer! E não porque somos essenciais, mas sim porque somos valentes, desbravadores, corajosos e motivados pelo amor, respeito e compromisso com nossos alunos.
Feliz dia dos essenciais a todos os professores!


Mariza Domingues mulher, filha, mãe, professora empenhada na proposta educacional contemporânea, educadora LIV, Psicopedadoga em formação, uma pessoa incrível e ensaísta para o ABA+ ! É muita inteligência Afetiva!

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1 comentário

  1. Lindo amiga….Essencial ta ai uma palavra que há .muito nao ouvíamos descrever tão bem essa profissão que eu abracei a muitos anos e hoje permeio por outros rumos, mas trago comigo entranhado em.meu ser esse ofício levando em minha jornada.Gratidao pelas magnificas palavras.

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Sobre o(a) autor(a)
Mariza Domingues

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Mariza Domingues é mulher, filha, mãe, professora empenhada na proposta educacional contemporânea, educadora LIV, Psicopedadoga em formação, uma pessoa incrível e ensaísta para o ABA+ ! É muita inteligência Afetiva!
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