por Cris Alves
No dia 11 de março a OMS declarou a pandemia de Covid -19, o que na prática quer dizer que a doença causada pelo novo coronavírus espalhou por diversos continentes e que não bastam mais ações isoladas. Além da classificação científica, a data marca o fim do mundo, em tempo, não estamos tratando aqui de profecias ou conclusões céticas e sim da evidente constatação de que o mundo o qual vivíamos até março de 2020 acabou.
Neste momento, é difícil manter qualquer diálogo ou reflexão sem considerar os fatos e os números estarrecedores. Muitos de nós já se depararam com a ação devastadora do vírus, outros tantos já sofreram o baque financeiro e todos passamos em algum nível por mudanças na rotina e nas dinâmicas das relações humanas. E é sobre essas mudanças que devemos refletir.
O tempo do consumo pouco planejado, do acúmulo de objetos mais ou menos necessários, da valorização egoísta do eu e do desrespeito ao outro findou-se. Aquele modelo de sociedade em que o imaginado e o sonhado podia ser simplesmente comprado também. Obviamente que não se trata em recomeçar do zero, mas de reformular concepções.
Dias tão incertos podem nos levar a viver dias melhores, melhor dizendo como seres humanos melhores, uma vez que o mundo pós-distanciamento, exigirá de nós outra essência, o ato quase involuntário de adquirir para existir, terá que ser abandonado. Em um mundo de gastos controlados e saídas planejadas, teremos que buscar outras formas para atingir e/ou cuidar do outro. A presença, o afeto, a atenção plena e a conexão com o eu e com os outros terão que ser resgatadas.
Então para nos adequarmos ao novo tempo, habilidades socioemocionais deverão ser descobertas, aprimoradas e desenvolvidas. Para isso, devemos retomar práticas que valorizam a essência do encontro, a busca pelo autoconhecimento, bem como do conhecimento. Só para termos uma noção, hoje já há pesquisas que indicam que quanto mais informação o indivíduo tiver sobre o vírus, mais condições ele terá de se prevenir. Já temos então um norte, o novo tempo requer uma postura respeitosa e curiosa pelo saber científico e emocional.
No que se refere ao emocional, podemos começar com os conceitos de alteridade e empatia, termos tão falados ultimamente. Alteridade, “todo ser humano social interage e é interdependente do outro”; empatia, “com componentes cognitivos, afetivos e reguladores das emoções”, que levam a partilhar e a compreender a si mesmo e ao outro. Então já se avaliou neste sentido? Como estão os seus níveis de alteridade e de empatia? Esses questionamentos ajudarão a adequar ao que nos espera.
E apenas como provocação. O que você faria se visse um policial agredindo ou asfixiando um cidadão? Que tipo de cuidado você dispensaria ao filho de uma funcionária? Qual a sua motivação para cumprir ou descumprir uma medida de isolamento social?